quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Suponha que um Ímpio Vá para o Céu


Por J.C. Ryle
Por um momento, suponha que você, destituído de santidade, tivesse a permissão de entrar no céu. O que você faria ali? Que possíveis alegrias sentiria no céu? A qual de todos os santos você se achegaria e ao lado de quem se assentaria? O prazer deles não é o seu prazer; os gostos deles não são os seus; o caráter deles não é o seu caráter. Como você poderia sentir-se feliz ali, se não havia sido santo na terra?
Talvez agora você aprecie muito a companhia dos levianos e descuidados, dos homens de mentalidade mundana, dos avarentos, dos devassos, dos que buscam prazeres, dos ímpios e dos profanos. Nenhum deles estará no céu.
Provavelmente, você ache que os santos de Deus são muito restritos, sérios e individualistas; e prefere evitá-los. Você não encontra nenhum prazer na companhia deles. Mas não haverá no céu qualquer outra companhia.
Talvez você ache que orar, ler a Bíblia e cantar hinos são realizações monótonas e estúpidas, coisas que devem ser toleradas aqui e agora, mas não desfrutadas. Você reputa o dia de descanso como um fardo, uma fadiga; provavelmente, você não gasta mais do que um pequeníssima parte deste dia na adoração a Deus. Lembre-se, porém, de que o céu é um dia de descanso interminável. Os habitantes do céu não descansam, noite e dia, clamando: “Santo, santo, santo é o Senhor, Deus todo- poderoso” e cantam todo o tempo louvores ao Cordeiro. Como poderia um ímpio encontrar prazer em uma ocupação como esta?
Você acha que um ímpio sentiria deleite em encontrar-se com Davi, Paulo e João, depois de ter gasto a sua vida na prática daquelas coisas que eles condenaram? O ímpio pediria bons conselhos a estes homens e acharia que tem muitas coisas em comum com eles? Acima de tudo, você acha que um ímpio se regozijaria em ver Jesus, o Crucificado, face a face, depois de viver preso nos pecados pelos quais Ele morreu, depois de amar os inimigos de Jesus e desprezar os seus amigos? Um ímpio permaneceria confiantemente diante de Jesus e se uniria ao clamor: “Este é o nosso Deus, em quem esperávamos… na sua salvação exultaremos e nos alegraremos” (Is 25.9)? Ao invés disso, você não acha que a língua de um ímpio se prenderia ao céu de sua boca, sentindo vergonha, e que seu único desejo seria o ser expulso dali? Ele haveria de sentir-se estranho em um lugar que ele não conhecia, seria uma ovelha negra entre o rebanho santo de Jesus. A voz dos querubins e dos serafins, o canto dos anjos e dos arcanjos e a voz de todos os habitantes do céu seria uma linguagem que o ímpio não entenderia. O próprio ar do céu seria um ar que o ímpio não poderia respirar.
Eu não sei o que os outros pensam, mas parece claro, para mim, que o céu seria um lugar miserável para um homem destituído de santidade. Não pode ser de outra maneira. As pessoas podem dizer, de maneira incerta, que “esperam ir para o céu”, mas elas não meditam no que realmente estão dizendo. Temos de ser pessoas que possuem uma mentalidade celestial e têm gostos celestiais, na vida presente; pois, do contrário, jamais nos encontraremos no céu, na vida por vir.
Agora, antes de prosseguir, permita-me falar-lhe algumas palavras de aplicação. Pergunto a cada pessoa que está lendo este artigo: você já é uma pessoa santa? Eu lhe suplico que preste atenção a esta pergunta. Você sabe alguma coisa a respeito da santidade sobre a qual lhe estou falando? Não estou perguntando se você costuma ir regularmente a uma igreja, ou se você já foi batizado, ou se você recebe a Ceia do Senhor, ou se tem o nome de cristão. Estou perguntando algo muito mais significativo do que tudo isso: “Você é santo ou não?”
Não estou perguntando se você aprova a santidade nos outros, se você gosta de ler sobre a vida de pessoas santas, de conversar sobre coisas santas, de ter livros santos em sua mesa, se você sabe o que significa ser santo ou se espera ser santo algum dia. Estou perguntando algo mais elevado: “Você mesmo é um santo ou não?”
E por que eu lhe pergunto com tanta seriedade, insistindo com tanto vigor? Faço isto porque a Bíblia diz: “Segui… a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor”. Está escrito, não é minha imaginação; está escrito, não é minha opinião pessoal; é a Palavra de Deus, e não a do homem: “Segui… a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor” (Hb 12.14).
Que palavras perscrutadoras e separadoras são estas! Que pensamentos surgem em meu coração, enquanto as escrevo! Olho para o mundo e vejo a maior parte das pessoas vivendo na impiedade. Olho para os cristãos professos e percebo que a maioria deles não têm nada do cristianismo, exceto o nome. Volto-me para a Bíblia e ouço o Espírito Santo: “Segui… a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor” (Hb 12.14).
Com certeza, este é um versículo que tem de fazer-nos considerar nossos próprios caminhos e sondar nossos corações; tem de suscitar em nosso íntimo pensamentos solenes e levar-nos à oração.
Você pode menosprezar estas minhas palavras, dizendo que tem muitos sentimentos e pensamentos sobre estas coisas, mais do que muitos podem imaginar. Entretanto, eu lhe respondo: “Isto não é mais importante. As pobres almas no inferno fazem muito mais do que isto. O mais importante não é o que você sente e pensa, e sim o que você faz”.
Você pode argumentar: “Deus nunca tencionou que todos os cristãos fossem santos e que a santidade, conforme a descrevemos, é apenas para os grandes santos e para pessoas de dons incomuns”. Eu respondo: “Não posso encontrar este argumento nas Escrituras; e leio que ‘a si mesmo se purifica todo o que nele [em Cristo] tem esta esperança’” (1 Jo 3.3). “Segui… a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor” (Hb 12.14).
Você pode argumentar que é impossível ser santo e, ao mesmo tempo, cumprir todos os nossos deveres nesta vida: “Isto não pode ser feito”. Eu respondo: “Você está enganado”. Isto pode ser feito. Tendo Cristo ao nosso lado, nada é impossível.
Outros já fizeram isto. Davi, Obadias, Daniel e os servos da casa de Nero, todos estes são exemplos que comprovam isto.
Você pode argumentar: “Se nos tornássemos santos, seríamos diferentes das outras pessoas”. Eu res- pondo: “Sei muito bem disso. Mas é exatamente isso que você deve ser. Os verdadeiros servos de Cristo sempre foram diferentes do mundo que os cercava — uma nação santa, um povo peculiar. E você tem de ser assim, se deseja ser salvo!”
Você pode argumentar que a este custo poucos serão salvos. Eu respondo: “Eu sei disso. É exatamente sobre isso que nos fala o Sermão do Monte. O Senhor Jesus disse, há muitos séculos atrás: “Estreita é a porta, e apertado, o caminho que conduz para a vida, e são poucos os que acertam com ela” (Mt 7.14). Poucos serão salvos, porque poucos se dedicarão ao trabalho de buscar a salvação. Os homens não renunciarão aos prazeres do pecado, nem aos seus próprios caminhos, por um momento sequer.
Você pode argumentar que estas são palavras severas demais; o caminho é muito estreito. Eu respondo: “Eu sei disso; o Sermão do Monte o disse”. O Senhor Jesus o afirmou há muitos séculos atrás. Ele sempre disse que os homens tinham de tomar a sua cruz diariamente e mostrarem-se dispostos a cortarem suas mãos e seus pés, se quisessem ser discípulos dEle. No cristianismo acontece o mesmo que ocorre em outros aspectos da vida: sem perdas, não há ganhos. Aquilo que não nos custa nada também não vale nada.
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Ryle serviu por quase 40 anos como ministro do Evangelho. Foi um escritor prolífico, um pregador vigoroso e um pastor fiel. Muitas de suas obras têm sido reeditadas e servido como fonte de instrução e consolo para o povo de Deus. A Editora Fiel publicou algumas de suas obras em português: o clássico “Santidade”; “Uma palavra aos moços”; “Fé genuína” e os quatro volumes de meditações nos evangelhos de Mateus, Marcos, Lucas e João.
Fonte: Editora Fiel

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Reflexões sobre um mundo sem Deus

Há alguns dias atrás, eu fiz algo que os cristãos costumam chamar de "pecado". Não vou dizer especificamente o que foi que eu fiz, mas basta saber que é algo que podemos saber que Deus não aprova e que fiquei com a consciência muito abalada por isso. Foi interessante porque, como eu já lido com ateísmo na internet há alguns anos, me veio um certo pensamento à mente: por um instante, eu desejei que Deus não existisse, só para que eu não fosse consumido pela culpa de ter desagradado a Ele.

Depois desse pensamento, muitas coisas se esclareceram em minha cabeça. Sabe, agora eu sei como alguns ateus se sentem. Eu acho que ninguém consegue suportar a culpa, a dor e a responsabilidade de seus erros por si mesmos. A solução mais fácil e rápida destes casos é simples fingir que essa culpa não existe. Todas as pessoas sentem isso, mesmo que muitas delas não saibam exatamente do que se trata, e a nossa tendência é fugir a todo custo disso.

Nós vemos isso acontecer desde os primórdios da humanidade. Desde Adão, o homem sempre quer se esconder de Deus quando sabe que o desagradou. Ele sente profunda vergonha disto, e se acostumou tanto a sentir esta vergonha que se tornou algo inconsciente (Gênesis 3.8, eu não vou entrar nos méritos se a historia de Adão foi literal ou não, mas mesmo que não seja ela possui muitas lições para nos ensinar). Sabemos, entretanto, que a verdadeira virtude não está em fugir dos nossos erros e responsabilidades, mas abandonar o estado corrupto e desprezível em que temos vivido, jogar fora as nossas máscaras e buscar a Deus de todo o coração. Ele nos promete perdão e alívio de nossas cargas, basta se arrepender e busca-lo com todo o coração (Jeremias 29.13 e Mateus 11.28).

Se você já encontrou a resposta da pergunta "Deus existe?" em seu coração (saiba porque esta é a pergunta mais importante da humanidade e porque é relevante se ele existe ou não aqui, e saiba como encontrar respostas aqui), o próximo passo é reconhecer o estado em que você tem vivido e tudo que você em sua vida que foi contra os padrões morais estabelecidos pelo Criador, que no fundo todos sabemos quais são. Só depois de reconhecer podemos nos arrepender, então seremos capazes de experimentar Deus de uma maneira que só podemos saber como é pela própria experiência. Você está disposto a isso hoje?

Abraços, Paz de Cristo.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Se Deus existe...

Se Deus existe, o Universo é uma maravilha, um presente, cercado de propósitos e de uma beleza objetiva. Cada cor, cada simetria, cada sistema planetário que dança harmonicamente segundo passos orquestrados precisamente por leis que foram formuladas pelo Supremo Legislador.
Os céus declaram a glória de Deus; o firmamento proclama a obra das suas mãos. 
Salmos 19:1

Se Deus existe, o homem é um ser em harmonia consigo mesmo e com o resto do Universo, e um verdadeiro espelho da mente do Criador.
Então disse Deus: "Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança. Domine ele sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu, sobre os animais grandes de toda a terra e sobre todos os pequenos animais que se movem rente ao chão". 
Gênesis 1:26

Se Deus existe, temos uma razão suficiente para dizermos porque algumas coisas são realmente certas e outras coisas são realmente erradas. Podemos assim conscientemente fazer ou deixar de fazer com o intuito de agradar aquele que criou as Leis Universais. 

"Porei a minha lei no íntimo deles e a escreverei nos seus corações."
Jeremias 31:33

Se Deus existe, somos os seres mais felizes do mundo, pois ao vermos as belezas muitas vezes indescritíveis do nosso Universo, a harmonia do Universo, a harmonia dentro de nós mesmos, ou até mesmo quando experimentamos um sofrimento que nos deixa abalados, mas que ao final nos faz crescer, nos deixa mais fortes ou mesmo serve só para nos aproximar um pouco mais do Criador, ao vermos todas estas coisas, temos a quem agradecer, tendo a certeza de que tudo isto foi feito por Ele e reflete a Sua glória. O Universo é um hino de louvor a Ele, do qual temos o privilégio de participar.

Como é bom render graças ao Senhor e cantar louvores ao teu nome, ó Altíssimo, anunciar de manhã o teu amor leal e de noite a tua fidelidade.
Salmos 92:1-2

Se Deus existe, o mais maravilhoso disso tudo é que mesmo sendo um Ser de incomparável grandeza, superior até mesmo ao Universo que mal conhecemos, Ele é capaz de falar conosco, e mais do que isso, quer se relacionar conosco. Ele nos fez para que nos relacionássemos com Ele, e de fato pede que todos os busquem com um coração aberto e sincero, e promete se revelar pessoalmente a todos que assim o fizerem.
Vocês me procurarão e me acharão quando me procurarem de todo o coração. 
Jeremias 29:13

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Se Deus não existe, o Universo é um nada. Um nada que mal sabemos se simplesmente veio a existir sem uma causa ou se sempre existiu sem nenhuma causa, propósito ou objetivo. O Universo é simplesmente um atentado contra as leis da lógica: ex nihilo nihil fit (do nada, nada vem). 

Se Deus não existe, o homem é um mero acidente causado por uma série interminável de acidentes altamente improáveis, ceiado por um processo guiado por forças cegas e impessoais ao longo de um enorme intervalo de tempo. A existência da nossa espécie é um simples piscar de olhos sem praticamente nenhuma razão e nenhum efeito no potencialmente infinito tempo cósmico. 

Se Deus não existe, não existe absolutamente nenhuma razão para dizer que isto é certo é realmente certo ou aquilo é incontestavelmente errado. Não existiu nem nunca existirá qualquer preceito moral absoluto. Não há portanto nenhuma motivação real para viver desta ou daquela forma , já que todos teremos o mesmo final, e aliás um dia até o Universo terá o mesmo final que nós. No fundo, não há diferença entre uma Madre Teresa e um Adolf Hitler; Se Deus não existe, nossa existência é cega, sem sentido e injusta. Podemos fazer realmente o que quisermos, mas tudo o que fizermos não fará qualquer diferença no Universo ou em nós mesmos. Somos totalmente livres, mas efetivamente inúteis. 

Se Deus não existe, somos os seres mais miseráveis do mundo, pois possúímos a capacidade racional e estética de perceber a beleza do bater das asas de uma borboleta, a engenhosidade físico-química do metabolismo dos animais, as simetrias presentes desde o modelo padrão de partículas elementares do universo até nos corpos bipartidos de alguns seres vivos, conseguimos ver todas a essas coisas, mas não temos a quem agradecer quando as vemos. Na verdade, isto que nos parece tão belo é algo indiferente e ilusório. Se Deus não existe, todo cientista é um verdadeiro frustrado, pois a sua admiração tão real pela natureza não possui sentido algum. Aliás, se Deus não existe, nada realmente possui sentido.

Se Deus não existe, é óbvio que orar não tem sentido, que seguir religiões não tem sentido, que fazer campanhas missionárias ou mesmo até escrever este blog não tem sentido; mas também é verdadeiro que fazer caridade não tem sentido, ajudar as pessoas não tem sentido, preservar a natureza não tem sentido, enfim, viver não tem sentido. O significado que tentamos dar à brevidade da nossa vida é uma mera auto-ilusão. Se Deus não existe, Nietzsche estava certo ao dizer que o bem e o mal não existem, e que o ser humano deve se elevar acima destes valores e para isso utilizar quaisquer meios disponíveis, inclusive a força (foi a filosofia de Nietzsche uma das influências para a filosofia do nazismo). Se Deus não existe, Dostoyevski estava certo ao constatar que tudo é permitido. Se Deus não existe, a vida e a razão humana leva inevitavelmente à desilusão e ao desespero, e a consciência racional e coerente isenta de auto-ilusão acaba logicamente em suicídio.

Se, e somente se Deus existe, temos esperança.

Abraços, Paz de Cristo.

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Breves objeções ao ateísmo

Uma ideia que costuma vir das argumentações de muitos ateus é que a fé em Deus é apenas um conforto emocional para os psicologicamente fracos. Fora o fato de isto ser simplesmente uma falácia genética (isto é, dizer que algo é falso simplesmente por se conhecer uma possível origem deste algo), vamos neste texto trabalhar mais profundamente estas e outras questões sobre breves objeções ao ateísmo.

O psicanalista Sigmund Freud costumava dizere que a ideia de Deus era simplesmente uma projeção da figura paterna, objeto de amor e temor ao mesmo tempo. Por outro lado, o também psicanalista Carl Jung, que era admirador e amigo de Freud, tinha uma visão ligeiramente diferente do assunto:

"O conceito de Deus é simplesmente uma função psicológica necessária... quando não é consciente , é inconsciente, porque seu fundamento é arquetípico... Por isso, acho mais sábio reconhecer conscientemente a ideia de Deus; caso contrário, outra coisa ficaria em seu lugar, em geral uma coisa sem importância ou uma asneira qualquer, invenções de consciências 'esclarecidas'." JUNG, Carl. Psicologia do inconsciente. Trad. Maria Luiza Appy. Petrópolis: Vozes, 1987, p. 63.

Para Jung, a ideia de Deus em nossa mente é um arquétipo projetado no inconsciente e anterior a qualquer outra imagem. Aliás, é a ideia divina de Pai que é projetada em nosso pai terreno. É daí que vem nossa obrigação moral de honrarmos nossos progenitores. Eles trazem uma imagem divina em sua missão paterna. Por outro lado, quando um pai é negligente ou perverso com seus filhos, nós dizemos que ele NÃO DEVERIA SER ASSIM. Tudo isso deve deixar claro de que é de Deus que vem o nosso conceito deontológico de pai.

Reforçando esta ideia, podemos constatar que a ideia de Deus, em sua forma mais básica, existe nas mais variadas culturas e épocas da humanidade. De alguma forma nós já nascemos com a ideia de Deus impregnada em nosso ser. (Hypescience: Somos programados para acreditar em Deus?) Deus não pode ser uma invenção cultural específica, exatamente porque Ele aparece em povos diferentes. O ateísmo parece ser algo muito mais artificial, algo no qual é preciso esforço para se convencer.

Se o cristianismo parece uma fraqueza ou uma fuga, poderíamos dizer igualmente que o ateísmo deve ser uma espécie de fuga da responsabilidade moral diante de Deus ou mesmo uma atitude de medo do inferno.

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Além de enfraquecer os significados de responsaibilidade e de juízo, o ateísmo debilita até mesmo o conceito de verdade. Sem Deus, a nossa mente é apenas o produto de evolução físico-química. Que garantia temos, então, de que nossa mente é capaz de tirar conclusões válidas ou de encontrar a verdade sobre as coisas, sendo que nosso cérebro é apenas um punhado de cúlulas que não foi planejado, mas é simplesmente umn acidente causado por forças impessoais? Quando o ateu tenta convencer (e se convencer) de que seus argumentos correspondem à verdade, ele está usando um conceito de verdade que só é coerente dentro de uma visão teísta.

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O naturalismo é a doutrina de que todo o Universo pode ser explicado em si mesmo, sem a necessidade de algo transcendente ou sobrenatural. Para o naturalista, o Universo gerou naturalmente a vida, e por fim, a vida consciente. O naturalismo defende um efeito maior em grandeza do que a causa. Analisando friamente, isto parece muito mais com uma espécie de paganismo sofisticado. Veja se isto que o profeta Jeremias falou há quase 3000 anos atrás parece meio familiar:

"Como fica confundido o ladrão quando o apanham, assim se confundem os da casa de Israel; eles, os seus reis, os seus príncipes e os seus sacerdotes, e os seus profetas, QUE DIZEM AO PAU: TU ÉS MEU PAI; E À PEDRA: TU ME GERASTE; porque me viraram as costas, e não o rosto; mas no tempo da sua angústia dirão: LEVANTA-TE, e livra-nos." (Jeremias 2.26-27)

A ciência e tecnologia da qual tanto nos gloriamos e de fato nós é muito útil pode nos dizer um pouco sobre como a vida funciona e até sobre como começou. Entretanto, a ciência nunca poderá dizer algo sobre a razão da vida. Este mistério está escondido num campo muito mais profundo.

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Os negadores da divindade alegam que a existência do mal é uma prova de que não existe um Deus ao mesmo tempo bom e todo-poderoso, que pudesse extinguir o mal. Primeiro, ninguém nunca disse que Deus não pode destruir o mal. De fato, ele vai. No tempo certo. Segundo, o mal é uma possibilidade que decorre logicamente de um bem: a liberdade. É bem possível que Deus use as consequências más de nossas escolhas livres para nos instruir sobre o uso correto da nossa liberdade. Quando todo o propósito de Deus for satisfeito, Ele destruirá o mal. Enquanto ainda houverem pessoas que podem ser libertas do mal através da busca de Deus e da salvação, Deus está adiando a destruição do mal.

Em terceiro lugar, o mal é apenas um problema aparente ao cristianismo, como tenho mostrado. Mas a existência do mal é na verdade uma objeção ao próprio ateísmo. Aliás, é a distinção que existe entre o bem e o mal. Se Deus não existe, não existe bem ou mal. Se se o mal existe, é porque existe o "não-mal" (o bem), e consequentemente, Deus existe. Afinal, se o homem é apenas matéria, de onde surgiu o conceito de bem e mal? Como o "ser" (matéria) pode ter gerado o "dever ser" (consciência moral)? Se o homem não é responsabilizado e submetido a um juízo por seus atos em vida, por que fazer o bem ou o mal?

Não há nenhuma razão honesta para o zelo moral se a única vida que temos é a presente. Vale assim o discurso hedonista citado por Paulo: "comamos e bebamos, que amanhã morreremos." (1 Co 15.32). De fato, Paulo também reconheceu que "se esperamos em Cristo só nesta vida, somos os mais miseráveis de todos os homens". (1 Co 15.19).

A existência de deveres absolutos em nossa consciência é realmente algo digno de meditação. É interessante que até mesmo aqueles que negam os absolutos morais terminam vivendo sob a égide de um preceito inquestionável, a saber, o dever da tolerância ou do respeito mútuo. O absoluto é inescapável no campo moral, e a moral é algo inescapável no ser humano. Na verdade, mesmo aqueles que defendem uma moral relativa acabam impondo seus padrões de forma absoluta - é o que podemos perceber nos manifestos humanistas dos ateus militantes, por exemplo.

De onde pois vem o sentimento de dever? Ele não pode vir da razão, uma vez que seria necessário primeiro explicar porque DEVEMOS agir de acordo com a razão. A natureza não pode ser a causa final do sentimento de dever, já que para o naturalista a mesma é cega e impessoal. Das ciências humanas e políticas, sabemos que o sentimento de dever surge de uma reivindicação de lealdade, lealdade a uma pessoa ou instituição (que geralmente é representada por uma pessoa). Se existem deveres absolutos, isto nos revela a existência de uma Pessoa Absoluta a quem devemos lealdade.

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O filósofo Søren Kierkegaard resumiu a vida humana em três etapas: a estética, a ética e a religiosa. Observamos que o homem só se liberta do desespero estético (resultante da busca de prazer sem propósito) através de algum absoluto ético em torno do qual organize sua vida e afirme sua identidade. A ética aparece como um "imperativo de significação pessoal". Na fase seguinte, a 'etapa religiosa', o homem descobre em Deus o fundamento do seu ser. Na fase ética, alguma "camada" da Criação é impropriamente absolutizada, enquanto na fase religiosa o homem reconcilia-se com o Criador e consigo mesmo, podendo reestruturar seu ser sobre o verdadeiro fundamento.

Jean-Paul Sartre, o filósofo existencialista, ao negar a existência de Deus e de uma ética objetiva, viveu praticamente toda a sua vida no nível estético. Em 1980, quando estava velho, cego e enfraquecido, porém ainda lúcido, pôde dizer:

"Não creio que sou um produto do acaso, uma partícula de poeira no Universo, mas alguém que foi aguardado, antecipado, previsto. Em resumo, um ser que só um Criador poderia pôr aqui. E essa ideia de uma mão criadora se refere a Deus." NATIONAL REVIEW, 11 jun. 1982, p.677.

Friedrich Nietzsche e Michel Foucault também foram filósofos que, negando a existência de valores absolutos, procuraram viver apenas no nível estético. Nietzsche passou os últimos treze anos de sua vida insano, vigiado em seu leito por sua mãe. Foucault se tornou obcecado pela morte, tendo tentado suicídio várias vezes. Por fim se entregou ao LSD e à pedofilia, morrendo com o corpo devastado pela AIDS.

Entretanto, os dois pensadores estavam certos em seu pressentimento de que a "morte de Deus" não representaria o advento do homem, mas sim a intensificação da sua agonia. Nas ciências humanas, a ausência de Deus não foi preenchida pelo homem, mas por sistemas, estruturas, textos sem autor e ações sem sujeito. 

Em Deus, o homem encontra a sua plenitude. Mas se Deus morre, o homem também desaparece. Entramos num estágio de "nadificação". Sem Deus, somos como um homem que teve um de seus membros amputado: é como se ainda sentíssemos o 'fantasma' do membro, dando a orientação do espaço em que se movia anteriormente. A ausência de Deus é como uma ferida que não cicatriza, mas que sempre reabre ao tentar fechá-la. 

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Apresentação


Olá, leitores. Meu nome é David Wilian Oliveira de Sousa e eu sou um blogueiro cristão há algum tempo. Tenho trabalhado no blog "Respostas ao Ateísmo", que aborda temas como a compatibilidade entre ciência e a religião cristã e a existência de Deus do ponto de vista racional. Para quem não conhece e se interessa pelo assunto, vale a pena visitar, e conhecer também a nossa página no Facebook.

De uns tempos pra cá, tenho sentido o desejo de começar um blog com outra ênfase, embora também relacionado à questão do ateísmo. Aqui, os textos perdem um pouco o foco formal e didático que têm no Respostas ao Ateísmo, sendo relativamente mais curtos, objetivos e pessoais. O objetivo é compartilhar pensamentos, experiências relacionados à questão que é talvez a mais importante feita em todos os tempos: Deus existe? A Sua existência faz alguma diferença na minha existência?
Espero que gostem!

Abraços, Paz de Cristo.